Ainda
hoje o país se ressente da ditadura que se instalou no país de 1964 a 1985, embora eleições
diretas só experimentou em 1990. É que aqui a ditadura não foi cabalmente
derrotada, como na maioria dos países latino-americanos. Aqui findou por um
acordo, que redundou na lei da anistia. Permitiu-se o regresso ao país de todos
os sobreviventes expatriados tidos como “inimigos da pátria” pelos golpistas de
farda, mediante a paga do preço de serem juridicamente perdoados todos os
crimes que estes praticaram.
Assim,
à míngua de uma derrota acachapante, o jornal Folha de São Paulo, por exemplo,
em editorial, ousou referir-se a ela como “ditabranda” (não teria sido tão dura
assim), para um ministro do STF um mal necessário, e remanesce, em um número
talvez expressivo de jovens ou adultos, o surpreendente desejo de um novo golpe
militar. Além desses, a imensa maioria pouco ou nada conhece daquele período. Alguns
até ainda a ele se reportam como o do “milagre econômico”, onde não havia
corrupção e os crimes foram um mal menor. A ignorância é triste. Muito triste.
Recentemente,
no Chile, o povo saiu às ruas para comemorar o falecimento de um dos maiores
algozes da ditadura que lá se instalara. Morreu de velho e de doenças. Mas os
crimes que praticou não foram anistiados, antes foram apurados e seus agentes
punidos. Daí que o povo não se conteve e comemorou. Assim também se deu na
Argentina, no Uruguai e por aí afora. Uma simples conversa com um irmão
latino-americano é o suficiente para constatar o grau superlativo de nossa
ignorância e, junto com ela, porque filho dela, o preconceito.
Hoje
o Brasil tem como presidente eleito uma mulher. Alvísssaras! Uma sobrevivente
da ditadura, que sofreu as mais abjetas, covardes e cruéis torturas, sem jamais
ter capitulado para dedurar um só de seus companheiros. Incrível! Uma filha,
mãe, avó e servidora pública sem uma só nódoa que pudesse manchar sua
biografia. Admirável!
Sei,
ela comete erros na condução política do governo, certamente também na
econômica (para uns, por políticas mais à direita; para outros, ao contrário).
Ela também por vezes tropeça nas palavras. Mas ela é uma presidenta digna, que
ama o seu país e tem olhos e ações (e como as tem!) para o seu povo. Por isto e
por mais um tanto de razões, tenho muito orgulho dela. E agradeço pelo povo
brasileiro, a despeito de todos os ataques e mentiras desferidos na última
campanha eleitoral por seus adversários, tê-la reconduzido à presidência do meu
país. Agradeço a cada dia.
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